Primeiro-Ministro em entrevista à Rádio das Nações Unidas

Sex. 25 de março de 2011, 12:30h
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“Estamos a produzir… o Povo depois decide”

Na recente visita oficial que o Primeiro-Ministro efectuou a quatro países (Estados Unidos da América, Cuba, Brasil e Reino Unido), em Nova Iorque, pouco depois de ter participado na Reunião do Conselho de Segurança das Nações Unidas, Ray Rala Xanana Gusmão concedeu uma entrevista à Rádio das Nações Unidas.

O que a jovem Nação espera da Missão das Nações Unidas em Timor-Leste (UNMIT) e as eleições de 2012, a Língua Portuguesa, a possível ajuda da Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP) a Portugal e o combate à violência doméstica, foram os temas abordados nesta entrevista de cerca de 20 minutos.

UNMIT e as eleições de 2012

A renovação do mandato da UNMIT foi aprovada na Reunião do Conselho de Segurança das Nações Unidas, que antecedeu esta entrevista. Na reunião, o Primeiro-Ministro pediu apoio logístico, apesar de Timor-Leste estar já a desenvolver esforços para garantir a sua autonomia e capacidade logística para eventos desta natureza.

Kay Rala Xanana Gusmão pediu, ainda, o envio de observadores para as eleições de 2012.

“Se a PNUD (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento) pudesse ter algum dinheiro proveniente da ONU (Organização das Nações Unidas) para ajudar a pagar as despesas, nós gostaríamos imenso, na medida em que, como são as terceiras eleições, não gostaríamos que depois houvesse acusações de fraude, de manipulação. Nós queremos respeitar as regras”, afirmou o Primeiro-Ministro.

Xanana Gusmão garantiu, ainda, que não é candidato às eleições presidenciais, e que “O meu partido foi criado dois meses antes das eleições (de 2007) porque senti que havia necessidade de contribuir para a paz, para a estabilidade da nação. Estamos a produzir… o povo depois decide”, concluiu o Chefe do Executivo.

Possível ajuda a Portugal

Nesta entrevista à Rádio das Nações Unidas, o Primeiro-Ministro falou, também, da visita ao Brasil e da cooperação que existe entre os dois países.

Kay Rala Xanana Gusmão antecipou outro assunto que discutiu, depois, com a Presidente da República brasileira, Dilma Roussef – a possível ajuda da CPLP a Portugal, um tema abordado a pedido do Presidente da República de Timor-Leste, José Ramos-Horta.

Língua Portuguesa

A adopção do português como língua oficial de Timor-Leste foi outra questão colocada ao Primeiro-Ministro, que explicou tratar-se de um “instrumento de identidade” para a jovem Nação.

“Nós teremos que, em termos económicos, aprender, também, o Inglês. Na região em que estamos, o Inglês é muito necessário. Mas nós somos nós. Não podemos inventar uma nova identidade. Somos Timor-Leste por causa da presença portuguesa. Se os portugueses se tivessem retirado há 400 anos, como aconteceu na Flores, seriamos uma província da Indonésia. De forma que, ironicamente, a presença portuguesa deu-nos uma identidade, deu-nos o direito de sermos um povo”, explicou o Primeiro-Ministro.

Quanto ao desafio que constitui o ensino do português a uma população que, na sua grande maioria, pouco fala a língua, Xanana Gusmão recordou os compromissos assumidos no Millenium Development Goals (Metas de Desenvolvimento do Milénio) para destacar o facto de este ser apenas um dos vários desafios que o país enfrenta, em matéria de educação.

Violência doméstica

A violência doméstica, apontada em relatórios internacionais como um dos problemas que Timor-Leste tem de resolver, trata-se de uma questão que está a ser combatida a vários níveis, explicou o Primeiro-Ministro. A Lei contra a violência doméstica foi já aprovada. O Orçamento Geral do Estado para 2012 contempla várias medidas para o combate a este crime. Mas Kay Rala Xanana Gusmão sublinha que é preciso tempo e mais polícias.

“É um problema que deve ser visto mais abrangentemente. Disponibilizamos dinheiro, fazemos relatórios, mas não nos apercebemos de que para obtermos resultado no combate a alguma coisa temos que ter os elementos que depois possam combater isso mesmo. Há muitas opções a serem tomadas … Dizem: “vocês já têm uma lei e não cumprem”! O esforço existe mas, às vezes, há uma criança de nove anos e quer-se que a criança corra a maratona de jovens de 19 anos. Não dá! Alguns relatórios que aparecem no mundo sobre nós… não é que não concordemos que nos apontem as falhas, às vezes não concordamos é com a maneira como abordam as nossas falhas”.

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