Timor-Leste Acolhe Conferência de Solidariedade Ásia-Pacífico com o Saara Ocidental e Reitera Apoio Inabalável ao Direito à Autodeterminação do Povo Sarauí

A cidade de Díli acolheu, a 19 de maio de 2025, a Conferência de Solidariedade Ásia-Pacífico com o Saara Ocidental, uma iniciativa conjunta do Fórum das Organizações Não Governamentais de Timor-Leste (FONGTIL), do Movimento de Solidariedade de Timor-Leste com o Saara Ocidental, do Grupo de Solidariedade do Japão para o Saara Ocidental e da Embaixada da República Árabe Sarauí Democrática em Timor-Leste. O evento reuniu representantes da sociedade civil, movimentos de solidariedade e delegações diplomáticas da região Ásia-Pacífico, incluindo participantes do Japão e da Austrália, e contou com a presença do Primeiro-Ministro, Kay Rala Xanana Gusmão, como convidado de honra.
No seu discurso durante o evento na Fundação Oriente, o Chefe do Governo saudou os participantes, com especial destaque para a delegação da “longínqua, mas próxima dos nossos corações” terra do Saara Ocidental, reafirmando “o compromisso [de Timor-Leste] com o direito dos povos à autodeterminação, por meios pacíficos e com base no direito internacional”.
“Esta conferência constitui um momento histórico. Reunir-nos aqui, no Sudeste Asiático, em apoio à causa do povo sarauí, é essencial para alargar a consciencialização sobre uma questão que, infelizmente, tem tido pouca voz no palco internacional”, declarou o Primeiro-Ministro, saudando também o papel ativo das organizações da sociedade civil na organização da iniciativa.
O Primeiro-Ministro recordou que, no dia seguinte a esta conferência, Timor-Leste celebra o 23.º aniversário da Restauração da Independência, e sublinhou os paralelismos com a luta do povo sarauí. “Timor-Leste está ao lado do Saara Ocidental na sua determinação inabalável em alcançar a autodeterminação e o reconhecimento internacional, porque poucos países compreendem melhor do que nós o que é ser ignorado por uma ordem internacional que desvaloriza os mais fracos e vulneráveis”, declarou.
Alertando para o sofrimento prolongado do povo sarauí, o Chefe do Governo afirmou que “o Saara Ocidental está ocupado há cinco décadas. Meio século de violência e repressão. Meio século de desilusão com o sistema internacional. Meio século de legado do colonialismo e de interesses comerciais a negar ao povo sarauí o seu direito à autodeterminação”. E deixou um apelo ao Secretário-Geral das Nações Unidas para que “António Guterres abrace plenamente a justa causa do povo sarauí, como Kofi Annan um dia abraçou a causa timorense”.
O Primeiro-Ministro reforçou ainda que “o nosso objetivo é alcançar, através do entendimento mútuo e do diálogo entre a Frente Polisário e Marrocos, uma solução pacífica e negociada, aceitável para ambas as partes, mas respeitadora da vontade do povo sarauí”.
A conferência proporcionou igualmente um encontro, no Palácio do Governo, entre o Primeiro-Ministro e Sidi Mohamed Omar, representante da Frente POLISARIO junto das Nações Unidas, durante o qual este transmitiu saudações do Presidente da República Árabe Sarauí Democrática, Brahim Ghali. A reunião incidiu sobre as violações dos direitos humanos nos territórios ocupados e a necessidade de reativar o processo de referendo prometido pela ONU. Ambos reafirmaram os laços históricos e emocionais que unem os povos timorense e sarauí, forjados através de experiências comuns de resistência ao colonialismo.
Durante as sessões da conferência, vários representantes de movimentos de solidariedade condenaram a ocupação do Saara Ocidental por Marrocos, defenderam o alargamento do mandato da Missão das Nações Unidas para o Referendo no Saara Ocidental (MINURSO) para incluir a monitorização dos direitos humanos, e apelaram à comunidade internacional para travar a exploração dos recursos naturais sarauís e exigir a libertação dos prisioneiros políticos.
Num apelo conjunto, organizações da sociedade civil timorense e movimentos da região Ásia-Pacífico solicitaram ao Comité Especial das Nações Unidas para a Descolonização (C-24) que acelere o processo de descolonização do Saara Ocidental, última colónia do continente africano.
Ao encerrar a conferência, Sidi Mohamed Omar agradeceu a solidariedade demonstrada pelo povo e pelo Governo de Timor-Leste, sublinhando que “a ocupação não confere legitimidade” e que “o direito internacional continua a ser a única via legítima para alcançar a autodeterminação”. Também Akihisa Matsuno, do Grupo de Solidariedade do Japão, evocou a sua experiência durante o referendo em Timor-Leste, em 1999, para reforçar a importância da vontade política e da mobilização internacional em processos de autodeterminação.