Conferência Internacional Reforça Laços de Amizade entre Timor-Leste e Austrália

Está a decorrer, no Salão Nobre do Ministério dos Negócios Estrangeiros e Cooperação, em Díli, a Conferência Internacional de Cidades Amigas entre Timor-Leste e Austrália, que reúne, nos dias 10 e 11 de julho, autoridades municipais, representantes de postos administrativos, membros da sociedade civil e grupos de amizade dos dois países. A cerimónia de abertura contou com a presença do Presidente da República, José Ramos-Horta, a transmissão de uma mensagem em vídeo do Primeiro-Ministro, Kay Rala Xanana Gusmão, e intervenções do Ministro da Administração Estatal, Tomás do Rosário Cabral, e da Embaixadora da Austrália, Caitlin Wilson.
Promovida pelo Ministério da Administração Estatal e pela Rede de Grupos de Amizade Timor-Leste–Austrália, a conferência tem como principais objetivos reforçar os laços entre comunidades timorenses e australianas, promover novas parcerias a nível local e contribuir para o aprofundamento das relações entre os governos dos dois países.
Na sua intervenção, o Primeiro-Ministro, Kay Rala Xanana Gusmão, destacou o valor das relações de amizade estabelecidas há 25 anos, antes mesmo da restauração da independência: “Lembro-me de como, em 2000, três Grupos de Amizade foram iniciados por conselhos locais em Victoria – Friends of Baucau, Friends of Aileu e Friends of Suai/Covalima. Hoje, existem 32 Grupos de Amizade espalhados pela Austrália.” O Chefe do Governo salientou ainda o impacto positivo dessas iniciativas, mencionando ações concretas como a construção de escolas, a distribuição de água potável, bolsas de estudo e apoio técnico na área da saúde. “Quando, por vezes, surgiram tensões nas relações com o Governo australiano, nunca houve dúvida de que o povo australiano nos apoiava. Obrigado pelo vosso tempo, pelo vosso compromisso e pelo vosso cuidado. Parabéns pelos 25 anos de amizade e extraordinárias realizações”, afirmou.
O segundo dia da conferência teve início com a partilha de um testemunho pessoal do Ministro da Presidência do Conselho de Ministros, Agio Pereira, sobre a longa relação entre Timor-Leste e a Austrália, onde evocou as quase duas décadas vividas naquele país. “É com honra e sincera satisfação que partilho convosco este testemunho pessoal sobre a amizade entre Timor-Leste e a Austrália — uma amizade enraizada na geografia, na história e na solidariedade entre os nossos povos”, declarou.
Recordou que os laços entre os dois países remontam à Segunda Guerra Mundial, altura em que “soldados australianos encontraram apoio, proteção e companheirismo entre o povo timorense”, sublinhando que essa história comum assinala “o início de uma relação especial — uma relação que não nasceu de interesses estratégicos, mas sim de gestos de coragem, solidariedade e humanidade, de ambos os lados”.
O Ministro destacou ainda os 50 anos da presença da diáspora timorense na Austrália, com “histórias de resiliência, de integração e de contributo ativo para a sociedade australiana, sem nunca perder o vínculo à pátria”, e elogiou a mobilização da sociedade civil australiana, que “se uniu à causa da nossa libertação com generosidade, coragem e convicção”.
Abordou também a missão da INTERFET, liderada pela Austrália em 1999, como “uma poderosa demonstração de solidariedade internacional e de compromisso com os direitos humanos, a justiça e a dignidade dos povos”, sublinhando que a chegada desta força multinacional marcou “o renascer da esperança”.
Na sua intervenção, Agio Pereira destacou ainda as várias dimensões da atual cooperação bilateral. “Hoje, a relação entre Timor-Leste e a Austrália é a de dois Estados soberanos, vizinhos e parceiros, ligados por interesses comuns e por um compromisso de cooperação”, afirmou, referindo o apoio australiano durante a pandemia da COVID-19, bem como à adesão de Timor-Leste à ASEAN e à Organização Mundial do Comércio.
Sublinhou ainda a importância da assinatura, a 6 de março de 2018, do Tratado sobre Fronteiras Marítimas, “um dos marcos mais importantes nas nossas relações bilaterais”, que teve “a honra de assinar em nome do nosso país”. Este tratado, frisou, “estabeleceu de forma definitiva uma fronteira justa entre os nossos dois países, com base no direito internacional — um exemplo inspirador para o mundo de resolução pacífica de disputas” e representou “um verdadeiro novo começo”.
Por fim, enfatizou o papel essencial dos Grupos de Amizade enquanto plataformas de ligação direta entre comunidades, sublinhando que “esta conferência é mais do que um evento simbólico. É uma celebração dos laços históricos que nos unem, uma afirmação do nosso presente partilhado e um investimento no futuro que queremos construir juntos”. Encerrou com uma mensagem de esperança: “Que esta amizade, nascida na adversidade, fortalecida pela solidariedade e renovada pela cooperação entre comunidades, continue a ser uma ponte entre os nossos povos — uma ponte de entendimento, de progresso e de esperança — e uma inspiração para o mundo.”
Durante os dois dias, os participantes partilham experiências e boas práticas em sessões de apresentação, exibição de vídeos e grupos de discussão, com vista à elaboração de um plano de ação estratégico para a próxima década. A programação inclui ainda uma exposição de fotografias, vídeos, folhetos e produtos artesanais ligados aos projetos dos grupos de amizade, bem como uma noite cultural com atuações de representantes dos municípios timorenses e da diáspora.
Estão representados mais de trinta Grupos de Amizade australianos, entre os quais Friends of Aileu, Friends of Baguia, Friends of Baucau, Friends of Ermera, Friends of Suai/Covalima, Friends of Lacluta, Friends of Lolotoe, Friends of Maliana, Friends of Venilale, Friends of Vemasse, Friends of Lospalos, Geelong-Viqueque Friendship Schools, Blue Mountains Hatobuilico Friendship Committee, Canberra Friends of Dili, Ballarat Friends of Ainaro, Bendigo-Maubisse Friendship Committee, entre outros.
A Conferência de Cidades Amigas Timor-Leste–Austrália constitui um importante momento na consolidação de relações de base comunitária que, ao longo dos últimos 25 anos, têm promovido a solidariedade e o desenvolvimento conjunto entre os dois países.